19 setembro 2010

Olaf, o rei viking




Assim como o Brumas, este conto foi feito para ser o histórico de um personagem. Desta vez a ambientação é para Vampiro, O Réquiem. E, também como o Brumas, eu gastei mais tempo fazendo o conto do que jogando (acho que deve ser algum tipo de maldição, meu próximo personagem vai se resumir à uma página, fato.), dessa vez pelo menos foram umas três sessões de história.




*  *  *

O vento gélido impunha seus rigores sobre a face do homem, a única parte de seu corpo que não estava protegida pela grossa camada de pele de lobos negros. Contudo, suas feições não demonstravam qualquer incômodo, apenas continham um ar feroz. Na verdade, o homem na proa da embarcação que liderava toda a frota encarava o horizonte como se desafiasse qualquer tempestade a se aproximar.

Na frente de cada barco, jazia a carranca de Jormungard, o filho monstruoso de Loki banido de Asgard. Não que aquilo representasse uma adoração, mas a prisão decretada por Odin à fera era o mar. A serpente que crescera tanto que seria capaz de dar a voltar ao mundo e morder o próprio rabo poderia acabar com os planos do rei com um simples movimento, não seria sábio adentrar seu território sem demonstrar o devido respeito.

Ao longo da drakkar homens musculosos remavam em uma fileira dupla na cadência dos tambores. O impulso avançava a embarcação no mar ondulante por entre os detritos de gelo, compensando a inutilidade da vela diante do vento contrário à sua destinação.


* * *
Dias se passaram até que os vikings aportaram em uma remota ilha. A ilha de Lindisfarne não seria um grande desafio. A ocupação da praia não custou nem mesmo uma vida no lado de seus futuros donos. Os guerreiros levantaram acampamento e descansaram durante a tarde. Atacariam sob o manto da noite, quando o medo nos corações daqueles bretões patéticos tivesse atingido o auge.

Como de costume, o druida não tardou a invocar os espíritos para que auxiliassem seus irmãos. Mas aquela não seria uma invasão como as outras, onde a fúria desmedida daqueles bárbaros garantia uma violência sem igual. Aquela noite seria diferente. Eles poderiam até vencer seus inimigos, mas aquele ataque não contaria com a selvageria de sempre, pois algo abalou a moral de todos.

Os longos rituais druídicos prosseguiam até o anoitecer. Cânticos druídicos eram entoados enquanto o ancião continuava com sua dança espiritual até que seus ossos não agüentassem mais, e talvez um pouco mais depois. Os homens já não prestavam tanta atenção ao sábio quando o sol havia abandonado completamente a terra encoberta pela neve. O que fez com que todos parassem para observar o homem não foi a preocupação de que a neve pudesse queimar seu rosto quando ele caiu e permaneceu no chão, foi a interrupção de seus cânticos que preocupou até mesmo Olaf e Brenda, os reis guerreiros.

Não havia presságio pior do que a interrupção dos cânticos pelo cansaço do druida. Pelo menos era o que se pensava. Com um surto de energia o xamã levantou-se da neve. Seus olhos em pânico direcionado para as montanhas faziam com que os guerreiros se afastassem da roda humana que agora o cercava. Seu queixo tremeu e ele gaguejou. Suas pernas revelavam que ele ainda tinha muita energia enquanto corria até seu rei. Era desconcertante ver o ancião correndo e tropeçando como uma criança.

- Me… me… meu rei - Gaguejou debilmente o xamã.
- Fale como o homem que você é Nilathak. - Trovejou Olaf. - Bebês gaguejam, você é o druida desta gente, e vai falar o que viu com coragem.
- Essa ilha… temos que sair… agora senhor… AGORA.
- Não ouse dar ordens para mim, velho. - O viking puxara o casaco de seu conselheiro descontrolado levantando-o até que pudessem ter a mesma altura. - Não há nada nessa ilha que vá me fazer fugir, nem a nenhum de meus homens e certamente nem a você. Agora se acalme e me diga o que você viu.
- Holda meu rei! Holda! Ela vive nessa ilha e tem um acordo com essa gente. - E sussurrou a última parte para que apenas Olaf pudesse ouvir. - Todos aqui vão morrer, eu já vi!

Olaf largou o homem que caiu desengonçado no chão. Seus guerreiros e sua rainha o olhavam. Atentos e ansiosos por uma decisão.

Ele encarou a cidade. Algumas milhas adiante tochas indicavam onde a população se reunira, onde estavam os suprimentos que ele deveria conquistar. Alguns passos atrás estavam seus guerreiros, a um passo de perder a coragem. Então ele se decidiu e anunciou com a voz trovejante.

-Se a senhora das bruxas resolveu proteger essa escória eu tenho muita pena dessa puta! Tenho pena, pois essa noite ela está no caminho do meu machado! No caminho de suas espadas! E no caminho dos nossos falos! Está noite Odin terá orgulho de suas crias e meus guerreiros vão provar do sexo de uma bruxa!

Estava feito. Os guerreiros tinham um pouco de sua coragem de volta e foi pelo temor de que ela se esvaísse que Olaf ordenou o ataque mais cedo do que de costume.


* * *

A brutalidade sanguinolenta era pior do que a costumeira. Braços eram separados de seus corpos e cabeças eram esmigalhadas por machados. Vikings e Bretões morriam e matavam. Lado a lado Brenda e Olaf lutavam e banhavam-se no sangue de seus inimigos. Mais do que uma manobra para aumentar a moral da tropa, aquilo fazia parte de sua cultura. Seu povo não tinha reis e rainhas fracos. Qualquer um poderia ser rei, bastava desafiar o rei anterior e vencer todos os outros pretendentes. A batalha pelo título muitas vezes acabava em morte e somente os melhores se atreviam. Olaf era rei desde os dezesseis anos e nunca perdera um duelo. Sua rainha também se distinguia das outras. Ela não era fruto de um acordo político tampouco era a aldeã mais bonita e escolhida pelo rei. Ela deveria, assim como seu rei, conquistar seu título da mesma forma. Ela poderia ser bem mais fraca que Olaf, mas era a mulher mais forte de seu povo. Assim era feita a política na terra dos povos guerreiros, a consagração da lei natural, a lei do mais forte

E ali no campo de batalha Olaf e Brenda trocavam suas maiores declarações de amor. Uma machadada na coluna desferida por Olaf e uma sequência de perfurações feita pelas adagas de Brenda salvavam constantemente a vida um do outro. Essa era a melhor forma de demonstrar sua paixão. Olaf poderia estuprar as mulheres conquistadas juntamente com seus guerreiros, mas ele só sacrificaria sua vida por Brenda.

No entanto, não havia romantismo para quem olhasse o combate de qualquer outro ângulo. Tomados pelo medo das bruxas os homens não deixavam sobreviventes, mulheres e crianças eram perseguidas e assassinadas com a mesma voracidade mesmo quando não havia mais inimigos.

O resultado da batalha era óbvio, os vikings haviam subjugado outra cidade e poucos deles haviam morrido. Olaf procurou por inimigos e só encontrou o resto da chacina contra os indefesos ao longo da cidade. Então Brenda correu em direção à igreja da cidade. Julgando pela sua velocidade e desespero Olaf considerou que deveria haver algum tipo de resistência ali dentro. Tentou acompanhá-la, mas ela, que sempre foi mais rápida do que ele, entrou na igreja muito antes.

A ausência de gritos de batalha no interior da igreja desesperou o rei guerreiro. E o desespero deu lugar à confusão. Três corpos sob uma poça generosa de sangue, seus homens haviam sucumbido sem trazer nenhum corpo inimigo ao chão. Olaf pressentiu uma armadilha e analisou o cômodo enquanto diminuía o ritmo de seus passos. As adagas de sua esposa estavam largadas no chão. Sua mente começava a fraquejar diante da possibilidade de tê-la perdido e seus punhos agarravam o machado com mais força do que o necessário. Uma voz feminina e majestosa ecoou pelo salão.

- Então você achou que era uma boa idéia atacar e pilhar uma vila de meros fazendeiros.

Era difícil identificar a origem da voz, parecia vir de todo lugar e de lugar nenhum.

- Uma boa oportunidade para estuprar mulheres e escravizar crianças.

Em um rompante Olaf investiu contra o palanque largo onde eram realizados os cultos, a voz certamente vinha de trás daquilo. Com um golpe estraçalhou a mobília e viu que se enganara.

- Sabe, eu tinha um acordo com esta gente. É difícil se alimentar em um lugar tão hostil como esse, pouca densidade populacional… e é difícil não matá-los quando eles resistem.
- Me enfrente bruxa! - Rugiu o viking. - Tente a sorte com quem não tem medo de você!

Ela continuou como se ele nada tivesse dito.

- Então eu tentei uma tática diferente. Eles me alimentariam de bom grado e eu garantiria que eles não morressem.
- Mas eles morreram, puta covarde! Assim como você morrerá quando cansar de se esconder. - O homem desistira de procurar a voz, sabia que ela iria atacá-lo a qualquer tempo.
- Sim eles morreram, pois assim eu permiti. Fazia tempo que não me alimentava sem freios. Hoje eu poderei fazer isso sem o menor arrependimento. Sangue saudável de homens fortes e valentes. Vai ser uma verdadeira orgia.

Dito isso, a voz foi substituída por uma risada que faria qualquer homem desejar que a realidade não passasse de um sonho, que pudesse acordar e continuar a temer na segurança de seu lar.
Olaf pode ouvir a direção daquele som macabro. Ela estava atrás dele. Não conseguiu distinguir se ela possuía a velocidade demoníaca que os olhos não acompanham ou se conseguia controlar sua mente fazendo-o ignorar sua presença.

Ela era uma mulher franzina e pequena. Seus longos cabelos negros contrastavam com sua pele cor de neve. Suas roupas não passavam de um pano fino caído sobre o corpo, a indecência de seus trajes indicava que ela deveria morrer congelada se saísse da igreja. Apesar de aparentar fragilidade ela trazia a viking mais forte que Olaf conhecia ajoelhada a sua frente. Brenda estava pálida e inconsciente. A jovem apertou seus dedos na nuca de sua vítima e sentenciou:

- Eu gostava dessa gente. Eles eram minha propriedade e eu sinto que você é o responsável por isso. Eu tentei dar uma chance a todos, avisei o seu oráculo e até considerei evitar a chacina. Você preferiu ignorá-lo e incitou seus homens para a morte. Eu vou me divertir torturando cada um de vocês esta noite.

Com a velocidade de um piscar de olhos Brenda foi arremessada na parede da igreja. Sem o corpo de sua rainha impedindo sua investida Olaf entregou-se a fúria cega.

O primeiro golpe sequer a tocou. Era como um fantasma se esquivando. O segundo foi contido, a bruxa segurou o cabo de seu machado detendo o poderoso impulso do viking.

- Você é fraco, não há na…
Uma cabeçada conseguiu acertar a testa da mulher. Muitos homens desmaiariam com aquela pancada. Olaf estava enfurecido demais para perceber que não causara danos físicos e sim psicológicos. A garota estava aturdida pelo fato de ter sido tocada, como se há muito ninguém conseguisse tal feito.

A lâmina pesada e veloz impedia que ela continuasse sua perplexidade. Cada golpe parecia mais certeiro. Ela não estava acuada nem sequer ameaçada, mas aquele era sem dúvida um combatente excepcional.

Como um raio a menina se distanciou do combate e, alcançando a porta, o encarou. Os olhos semicerrados com um misto de raiva e curiosidade. Olaf arremessou seu machado em uma tentativa inútil, a bruxa esquivou-se com facilidade.

- Eu tenho um destino melhor para você. O que não quer dizer que você não pagará pela minha perda.

No instante seguinte Olaf estava ajoelhado no chão. Ela havia quebrado seus dois braços sem que ele pudesse acompanhar os golpes. Uma de suas mãos o empurrava para baixo e a outra afastava sua cabeça.

O corpo do rei jazia no chão da igreja sem nem mais uma gota de sangue nas veias.

A bruxa cortou seu pulso e deixou que seu próprio sangue escorresse na boca de Olaf.

- Você mesmo se encarregará da minha vingança, vai ser interessante ver que tipo de monstro você vai ser.

A bruxa desapareceu após ter fechado o ferimento no pescoço de Olaf com uma carícia de sua língua.
Segundos depois alguns guerreiros vikings entraram na igreja e encontraram seu rei ajoelhado encarando o chão enquanto respirava rapidamente. Havia um ar animalesco nele. Esta era a última coisa que aqueles guerreiros pensariam.

Com a fúria demente e amaldiçoada que tomou o domínio do corpo de Olaf todos os humanos da ilha encontraram a morte na mesma noite. Quando Olaf voltou a si estava diante de centenas de corpos espalhados na neve. Lembrou-se das atrocidades que cometera e entrou em pânico. Talvez tivesse enlouquecido não fosse a preocupação maior que brotara repentinamente em sua mente: Brenda.
Ele não sabia se ela estava morta. Não se lembrava de tê-la assassinado em seu frenesi por sangue e não tinha a menor idéia se ela estava viva antes que o combate com a bruxa começasse.

Quando chegou à igreja encontrou o corpo de sua mulher no mesmo lugar em que tinha sido arremessada. Não havia pulsação em seu pescoço e seu corpo estava gélido como um cadáver. Em uma ação desesperada e intuitiva sangrou seu próprio braço com dentes que acabara de descobrir como letais. O sangue jorrou e transbordou na boca de Brenda. Olaf não sabia se aquilo tinha de fato alguma lógica, só queria poder salvar sua esposa. Queria poder fazer mais esta declaração de amor.

Brenda não se mexeu naquela noite, sem dúvida era um cadáver. Olaf prepararia um funeral digno do posto de sua rainha. Um de seus barcos levaria seu corpo e suas adagas para a outra vida. O mar pegaria fogo aquela noite enquanto seu espírito se juntaria aos deuses. Pelo menos era o que ele pensava em fazer. Com o surgimento do sol, Olaf começou a sentir a agonia em sua pele. Com velocidade e medo sobrenaturais ele fugiu para uma caverna escura e desmaiou durante um dia inteiro.

* * *
Ao anoitecer do dia seguinte Olaf tentava entender sua nova condição. Sua pele era fria, ele não sentia fome depois de um dia inteiro sem comer e ainda assim sentia-se mais forte do que de costume. Havia algo dentro dele, algum tipo de fera esperando um momento de fraqueza para assumir o controle de seu corpo e sua mente. A bruxa havia transformado-o em algum tipo de demônio viciado em sangue, os cadáveres secos de seus companheiros estavam espalhados a algumas milhas para provar.

Lembrou-se de Brenda, incapaz de alcançar Valhalla enquanto seu corpo não fosse cremado e correu para a cidade. Apenas corpos bretões espalhados pela neve, nenhum viking. Sua vista, que estava mais aguçada desde sua transformação, alcançou pequenas fogueiras na praia e alguns barcos pegando fogo. Alguns sobreviventes estavam encarregando-se dos funerais.

Quando se aproximou o suficiente para distinguir as feições de seus súditos sem que fosse notado percebeu o cheiro de carne queimada. Estava acostumado com aquele cheiro, mas desta vez havia algo de diferente. O cheiro ferroso de sangue no ar o atiçava para o combate e a imagem do fogo vista mais de perto lhe causava pânico. Ele estava começando a perder o controle.

Com o pouco de força de vontade que lhe restara, fugiu para sua caverna e lá permaneceu. Ficou isolado por oito dias e oito noites, quando a fome finalmente lhe venceu. Com a mente de um predador correu pela noite em busca de sangue humano. Seus companheiros haviam deixado a praia e os suprimentos remanescentes lhe eram tão apetitosos quanto uma rocha. Percorreu toda a extensão da ilha sem encontrar um humano sequer.

A noite tornava-se menos escura a cada momento. Tomado pelo frenesi achou ter ouvido uma voz humana. Quando voltou a si havia sugado um javali até a morte. Não tinha mais dúvidas, era uma fera.

* * *

Décadas se passaram sem que o corpo de Olaf definhasse. Quando sentia fome se alimentava da vida de animais. Quando acabaram os animais da ilha, começou a caçar no mar. Cada vez mais um animal. Cada vez menos um humano.

Olaf percebeu sua consciência se esvaindo e em determinado ponto decidiu resistir à fome nem que isso o matasse. Dentro da caverna onde costumava se esconder do sol que lhe queimava o corpo cavou até os ossos de seus dedos ficarem expostos. Quando achou que não conseguiria sair facilmente começou a socar as paredes o mais forte que podia. Começava a sentir-se exausto e quando o desmoronamento finalmente aconteceu, não teve forças para se erguer.

* * *

Séculos se passaram e Olaf permaneceu em seu torpor.


* * *
Uma grande explosão chamou a atenção de Olaf. Ele estava em um dos raros momentos de consciência, quando acordava e a fome acumulada pelos séculos o fazia desmaiar no final da noite por mais muitos anos.

Sentiu o tremor nas pedras que o soterravam, algo estava acontecendo. Mesmo com prováveis toneladas separando-o da superfície sentiu novamente aquele cheiro. Cheiro de fumaça combinado com algo mais. Algo ferroso.

Possesso pela possibilidade de sentir o gosto do sangue novamente reuniu o máximo de forças que tinha. As pedras não se moviam apesar de seus esforços. A fera que o habitava queria rasgar seu peito e atravessar como um espírito demoníaco as rochas. E foi de fato o que aconteceu.

Como um demônio fantasma seu corpo se fundiu às rochas e ele tornou a superfície. Deveria estar no reino de Hel, a deusa da morte. A terra que ele conhecia não era mais a mesma. Troncos finos de ferro iluminavam o lugar com algum tipo de fogo controlado. Havia construções estranhas e uma delas estava em chamas. Humanos corriam amedrontados nas ruas fugindo para todos os lugares. Um deles fugiu para as montanhas e trouxe vida para Olaf.

A fera interior o chamou atenção para alguns humanos em específico. Eles eram rápidos e fortes. Saltavam como gafanhotos e se alimentavam de outros humanos.

Tomado pelo pensamento de que aquelas criaturas eram crias da bruxa responsável pela sua tortura secular Olaf cedeu a sua antiga fúria. Não como um demônio descontrolado, não como um viking invasor, mas como uma sincronia perfeita dos dois. Era a primeira vez que humano e fera entendiam-se.

Três das criaturas já estavam mortas e uma havia sido sugada quando as demais pararam de gerar o caos aleatório e se voltaram contra o viking que mais parecia um homem das cavernas.

A luta estava desigual e Olaf certamente seria derrotado quando eles chegaram. Criaturas bestiais trajando couro negro uniformizado. Eram rápidos e mortais. Com adagas despedaçavam rapidamente a maioria dos descendentes da bruxa. Algumas das criaturas bestiais carregavam estacas de madeira que eram rapidamente cravejadas no peito dos inimigos que davam mais trabalho.
Os inimigos de Olaf foram rapidamente substituídos e o rei viking conseguiu manter a luta por certo tempo, até virem as estacas. As adagas não pareciam causar muito dano, mas bastou um golpe de estaca no seu peito e tudo se apagou.

* * *
Um pano negro encobria sua cabeça e impedia sua visão. Três pares de mãos seguravam cada um de seus braços levantados e o outro o forçava a permanecer de joelhos. Os homens e uma mulher conversavam em um idioma estranho. A conversa era interrompida e começava o barulho de pernas se debatendo no chão. Aquilo se repetiu duas vezes até que o capuz lhe fosse removido. Sua cabeça era mantida abaixada e ele podia ver que o piso do lugar era feito de uma pedra polida de beleza rara. Havia uma iluminação fraquíssima no lugar, mas sem a ondulação luminosa que as tochas causavam, deveria ser magia, pois ele não conseguia ficar acordado enquanto havia luz do dia.

Os homens começaram seus diálogos incompreensíveis e então o levantaram. Estavam em um cômodo espaçoso e simultaneamente simples e luxuoso. Não fossem as pessoas em trajes negros capazes de amedrontar sua fera interior com um mero olhar, o local pareceria com os mosteiros que Olaf pilhava em sua outra vida.

Ele foi conduzido até um dos encapuzados que se dispunham lado a lado em uma fila. À esquerda três homens sem o capuz traziam sangue em seus maxilares e corpos sem vida em seus pés. À sua direita mais três homens cujos rostos o capuz escondia esperavam sua vez. O homem à sua frente retirou o capuz e ambos se encararam. O choque foi mútuo.

Olaf perdera todo medo ou ódio. À sua frente uma mulher branca como a neve e cabelos loiros em uma trança única. Em um movimento suave ela soltou o nó que prendia seu manto negro, uma adaga perfeita em cada mão. Falou algo que Olaf não compreendeu e todos os outros a encararam. E então falou em uma língua que Olaf usava em outra vida.

- Olaf? É você, meu rei?

O viking não conseguia falar. Talvez fosse pelos séculos sem exercitar suas cordas vocais, talvez pela desconfiança de que tudo não passasse de mais uma piada infernal de Loki ou talvez porque nada precisava ser dito.

- Brenda? - Os olhos do predador continuavam desconfiados, mas ele não parecia mais notar que havia outros seres na sala.


* * *

Brenda explicou para Olaf dos planos de Holda, de como a bruxa impediu que ela controlasse o próprio corpo quando Olaf a trouxe de volta a vida, de como ela se tornou o animal de estimação da senhora das bruxas por séculos e de como ela conseguiu traí-la sugando seu espírito para dentro de si. Contou sobre o que eram os vampiros e situou o viking no mundo atual.

Brenda era uma das líderes de uma facção conhecida como “VII” que praticava a diablerie em outros vampiros, o beijo que sugava a alma transferindo os poderes vampíricos. A organização a qual Olaf seria obrigado a se filiar, pois já sabia demais. A conversa durou anos e com a ajuda de sua rainha, Olaf lembrou-se de quem era.


- E quem é o rei? - Perguntou Olaf, sua expressão era séria.
- Isso não faz diferença, se você não fizer parte disto será considerado um inimigo.
- Acredite, a idéia desta sua coligação me atrai mesmo que eu não a conheça muito bem, mas eu sou Olaf Hardrada, não vou me curvar aos caprichos de quem eu sequer conheço apenas por medo.
- Você não tem a mínima chance Olaf, nada é como antes agora. O poder individual ainda conta muito, mas nós agimos como um grupo agora.
- Todo grupo tem um líder, Brenda. Sempre vai ser assim.
- Você não conseguiria sequer me atingir, Olaf. Engula seu orgulho.
- Então eu não seria o homem que você conheceu.

* * *

E assim Olaf fugiu da Escandinávia com a ajuda de Brenda. Agora o viking procura meios de conquistar tudo o que perdeu em muitos séculos. O mundo sempre foi dos mais fortes, não importa quantos séculos passassem, esta sempre seria a verdade.

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